Três Dias Em Uma Noite

O café estava quente demais e queimou a língua, foi atender ao telefone, que estava repleto de barro e sujeiras, mal dava pra ver os números pra discar. Parou, não lembrava o número e percebeu que no aparelho havia uma foto de uma parenta distante, não entendeu direito e subiu um morro em direção à roça de café, viu um animal de chifres comendo abóboras que ali brotavam do chão, quando ouviu uma sirene ecoar próxima da estrada pra vila.

Chegando lá, um de seus melhores amigos passeava com a namorada, já estava anoitecendo e deram uma volta de carro, olhando pras portas das lojas se fechando e alguns bêbados desmaiados à beira da avenida. Grandes caminhões cruzavam a rua principal, numa marcha que parecia uma manada de elefantes míopes em câmera lenta, atropelando tudo e todos que cruzassem seus caminhos.

Chegou no estúdio de gravação, conversou com um conhecido que lá estava tomando café no refeitório, quando percebeu que se aproximava uma atriz famosa, que poderia ajuda-lo a ingressar no meio artístico com apenas algumas palavras. Cumprimentaram-se, quando descobriu que seu colega era filho da tal atriz, conversaram um pouco e a estrela se afastou. Foi quando chegou um humorista negro conhecido que lhe deu um autógrafo inusitado, riram bastante e tomaram o rumo de casa.

Entusiasmado com as possibilidades maravilhosas que poderiam lhe servir para o futuro almejado, diante dessas três situações divergentes e intrigantes, voltou pra seu corpo, em cima de sua cama, acordou com um gosto amargo na boca e foi à cozinha tomar café, que estava quente demais e queimou a língua...