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quarta-feira, outubro 08, 2008

Autóctone até às 22:30


A isca foge do anzol, é fácil rimar, é difícil conjugar. Maltratar a linguagem, tentando passar pela língua o que é incomunicável faz de nós os caçadores incessantes do nada a declarar.

Ruim de proza, talvez. Quieto, muitas vezes. Insosso, talvez por opção ou por precaução. Observador, sempre. Ouvinte, não penico.

Não que o mundo seja uma esteira, mas passando a conviver com outras pessoas, temo que seja inevitável relembrar certos pontos e dizer tudo novamente para que o despercebido passe a ser tateável.

A sinestesia dominante do lembrar é tão boa como desesperadora. O peso do futuro aperta o peito, e o frio brota na barriga, perturbante.

Vejo uma sala do trono, com um rei e uma rainha, a corte toda, luxuriosa, gulosa e invejosa presa num castelo maciço. Porém por trás das paredes, há cadáveres testemunhando a incredulidade da alma e a adoração do vislumbre material.

Viver em sociedade, pagar o preço por existir, talvez coma mais uma barata hoje e vomite um travesseiro inteiro, me deite nele ou vôe até a nuvem mais alta e a massageie até começar a chover...

Se eu virar um pingo de chuva....

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