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sexta-feira, junho 05, 2009

Gengivas Enormes


A passarela é vermelha e amarela, e eu vou passando por ali olhando para os lados e enxergo uma multidão de costas para mim, olhando para seus pés. Sem tentar sequer me perguntar que diabos é aquilo, sigo meu caminho e enxergo lá na frente um sino pendurado no teto, também passo por ele sem toca-lo.

Assim, o chão começa a andar como uma esteira, quase caio, e vejo portas aparecendo por todos os lados, cada uma com algum desenho abstrato, meio buñuel. Alguns parecem ostras dentro de um buraco negro; outros lombrigas brigando com relâmpagos e ventos. Sei que é truque do meu cérebro, pois as figuras não dizem absolutamente nada.

Sempre quis ter um cachorro, tive quase dois de uma só vez, mas se foram muito rápido, mesmo sem terem morrido... Também sinto falta dos gatos e dos unicórnios. Já me perdi uma vez dentro de um mercado numa cidade minúscula, tudo porque queria muito um calendário com figuras que achei muito interessantes na época.

Voltando à passarela vermelha e amarela, lá estava eu, na esteira, observando as portas com as figuras dadaísticas quando ouvi, logo atrás de mim, aquela multidão de antes vindo correndo, todos desesperados, gritando coisas incompreendíveis, tão surreais quanto tudo o que já estava acontecendo.

O teto começa a ruir e tenho a sensação que vou acordar de um sonho maluco, mas o que acontece é outra coisa, o cenário se rasga. Portas, esteira, multidão e sinos, tudo sumindo como se correndo dali e dando espaço para outro cenário, que logo surge.

Quieto e parado, surge um jardim com uma grama preta, no meio há uma jarra de barro enorme onde deveria haver um chafariz ou o busto de alguém, pois logo à frente há uma igreja arcaica de portas abertas. Sinto uma vontade súbita de entrar, e o faço. Já dentro, percebo que tudo é diferete de qualquer igreja possível, o ambiente mais lembra um tribunal ou um grande hall de reuniões. Nunca fui muito bom em descrever cenários.

O lugar está vazio, ouço apenas minha própria respiração e meus passos cautelosos, que fazem meu corpo se movimentar provocando um ruído quando meu corpo toca minha roupa. Bem na frente da sala há uma espécie de tablado, subo até lá e vejo um coelho morto, aparentemente estrangulado. Ao ver o animal, sinto uma espécie de euforia e sem pensar o pego pelo pé, rodo e o atiro ao longe do salão, provocando um hiato de ruído, único e monossilábico - "tap!".

Assim, minha pressão abaixa rapidamente e desmaio e acordo sentado assistindo aula de Filosofia Antiga, levanto fumo um cigarro, respiro fundo, tento explicar o que vi a um colega, porém em vão.

Por fim, tomo o ônibus, vou para casa, durmo e no dia seguinte não consigo me lembrar com o que sonhei, pois acordo atrasado para o trabalho.

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