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terça-feira, junho 09, 2009

Névoa Racional


Ando penetrando nos cômodos do meu pensamento que há muito estão abandonados e encontro uma porção de objetos dos quais eu nem mais lembrava... Achei um liquidificador antigo, à manivela, que eu usava nos tempos remotos para descascar beterrabas e cenouras para fazer suco... Era tudo uma grande brincadeira, tudo manual, sem tomadas ou eletricidade, sem pilhas e controles remotos... sem virtualidade real...
Hoje até para descascar uma laranja há um botão encarregado, para ter água quente, esqueça o fogo, gire e pronto!

Quebre um ovo por dia, limpe a bagunça com sua língua, tome um antiácido e vá até a cervejaria mais próxima xingar o garçon e o DJ.

Todas as minhas vítimas estão emolduradas na minha parede. As observo, satisfeito pelo bom trabalho que fiz ao transformá-las. Eu me transformei, no absurdo de ser gente, num espantalho de palha de aço que corta pulsos e tece teias extras no caso de algum garoto levado venha arruaçar.

Sou o senhor dos vinte dedos, o homem do nariz e das orelhas, o lorde do umbigo redondo e também o incrível possuidor de um cérebro dentro do crânio.

Sou o primeiro filho depois da minha irmã, o último antes de meu primo e a espiga temporona que veio na época da seca matar a fome dos próximos.

A viagem será não muito em breve, mas será.

Só isso basta para não ter que usar um extintor tão cedo.

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